terça-feira, 1 de setembro de 2009

Quando eu era menino


Quando eu era menino, nunca vi ovos à venda no armazém de seu Moreno em Grussaí ou na Beira da Lagoa da minha querida praia. Todas as casas pela redondeza onde eu morava (rua das Flores) tinham galinheiro. Ovos para as deliciosas gemadas da manhã e galinhas para o almoço de domingo, que reunia avós, tios e primos vinham do próprio quintal. E não se alimentavam galinhas com ração. Quem fizesse isso seria considerado diferente, excêntrico. As galinhas - e o galo - recebiam milho e capins nativos. Todos os ovos eram caipiras. Os anos foram passando e veio a modernidade. As pessoas foram construindo casas e sobrados cada vez maiores e perdiam quintais cheios de frutas e galinhas.

Tive uma infância muito boa, e me divertia indo à praia, paseando de automóvel com meu pai ou brincando de bola com meus amigos no campinho saramandia. Mas havia um momento - em que eu era transportado para um ambiente rural. Ia para o sítio do meu avô Mário Gomes, que ficava na localidade de Rua Nova, naquela época uma região cheia de grandes sítios, com bois pastando, tanque cheios de água, matas, plantação de cana. E o sítio tinha um gigantesco pomar. Havia árvores de frutas por todo lado, a ponto de mal termos espaços para brincar ao sol. Meu avô e minha vó separava sementes já pensando no próximo verão. E assim, nosso pomar em um espaço enorme tinha manga (de cinco ou seis tipos diferentes), jaca, jambo, jamelão, caju, pitanga, cajá-manga, seriguela, carambola, abiu e muita laranja (cinco ou mais tipos diferentes).

Trago dentro de mim a lembrança vívida do cheiro e do gosto dessas frutas todas, algumas azedas de piscar o canto do olho, outras dulcíssimas, como a manga carlotinha, que amassávamos bem, abrindo depois um furo na casca, pelo qual sorvíamos o seu sumo delicioso. As laranjas lima, aquelas bem amarelinhas, com um gosto incomparável, me traz muitas lembranças.

O pé de carambola, que quando se carregava da fruta os galhos pesavam e quase encontravam-se ao chão, formando uma cabana perfeita. Era ali, naquele lugar de sombra, silêncio e aconchego que nós, eu, meus irmãos e primos brincávamos. O mundo adulto ficava do lado de fora. Estar debaixo da caramboleira era um segredo só nosso. Em uma ocasião, minha mãe, teve um problema serio na garganta, quase perdeu a voz, dai eu e meus irmãos Julinho e Mauricinho, tivemos que passar um tempo no sítio de meu avô, minha mãe voltou pra casa chorando muito, mas sabiamos que tudo era para o seu bem. Foi um momento de muito sofrimento, debaixo da caramboleira, que todos os dias sentavamos e pediamos a DEUS para curar nossa mãe querida.

Guto Gomes - 01-09-2009

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