sexta-feira, 4 de março de 2011

A difícil missão de liderar a minoria

Por julia, em 01-03-2011 - 16h14

O vereador Aluizio Siqueira (PTB), que exerce seu primeiro mandato, cumpre uma missão espinhosa: defender o governo em uma arena onde tem desvantagem numérica e encaminhar votações que quase nunca passam na Câmara. São João da Barra é um dos poucos municípios da região em que o governo não conta com o apoio da maioria dos vereadores. São cinco a quatro. E o papel de Aluizio como líder do governo, na tribuna onde os debates costumam ser intensos, é marcar posição.

Legislador com perfil de executivo, ele é chamado por muita gente, como crítica ou elogio, de fiscal. Acompanha obras de perto, conversa com as pessoas o tempo todo, descobre demandas e tenta resolvê-las. Talvez por isso seu nome já tenha sido citado entre os prováveis candidatos à sucessão da prefeita Carla Machado (PMDB). Ele próprio prefere contemporizar e não admite nem descarta a possibilidade, mas não esconde o desejo de um dia governar o município. Não necessariamente a partir de 2013.

A Câmara engessou a Prefeitura?

Inviabilizou muitas coisas que estavam em andamento, retirando recursos do orçamento que vão provocar a paralisação de serviços importantes, como a melhoria de estradas. O que começou pode não continuar. Com as emendas, foram tirados R$ 10 milhões da secretaria de Obras. Isso afeta a iluminação pública, operações tapa-buracos e muitas outras coisas.

O senhor disse, na sessão que derrubou os vetos, que havia erros técnicos nas emendas e que a Prefeitura iria tentar derrubá-las na Justiça. Isso é fato?

Pelo que sei vai entrar na Justiça sim, se é que já não entrou, para ver se reverte as emendas, a maioria delas, por ferir a Constituição e a Lei de Responsabilidade Fiscal. Além disso, há fraudes legislativas em algumas emendas, tanto aditivas quanto modificativas, porque o que foi enviado à Prefeitura tem o texto diferente do aprovado no plenário.

Mas e quanto ao verão? O G-5 disse que aprovou quase R$ 2 milhões de suplementação em 2010 para a secretaria de Turismo, mais R$ 4,5 milhões no orçamento deste ano? O valor não tornaria a programação viável?

Eu acho inviável. No ano passado a Câmara aprovou para o Turismo R$ 9,3 milhões. No primeiro pedido de suplementação, no final do ano, havia R$ 47 mil em caixa.

A oposição diz que há outras prioridades.

Mas é certo tirar recursos de um município turístico? Dentro de um orçamento de mais de R$ 384 milhões foi pedido o valor de R$ 9,5 milhões, apenas R$ 200 mil a mais que no ano passado. Todos estão vendo que há uma coerência no que é proposto no orçamento.

A oposição diz que é só pedir mais que suplementa, se comprovar a necessidade. Por que o governo não aceita desta forma?

Porque não deram as suplementações pedidas. A gente fica com as barbas de molho. Eu ouvi de Alexandre (Rosa, ex-presidente da Câmara) que era só mandar o pedido da festa da Penha, fazer a festa e mandar o pedido do circuito junino que liberava, fazer o circuito e por aí vai. Querem fazer o papel do executivo? Falam tanto em cassar a prefeita, mas não dão nem a oportunidade de ela errar. Você não pode dar alface ao cabrito e cercar a horta, que ele não vai comer. Querem fiscalizar, mas como fiscalizar o que não pode ser feito?

O G-5 aprovou que a Prefeitura só pode remanejar 5% do orçamento sem ter que pedir à Câmara. Isso é engessar o governo?

Esse percentual já foi de 50%, no ano passado reduziram para 25% e agora 5%. Se a intenção for engessar é uma maneira errada de fazer política, porque quem sofre é o povo. No orçamento o valor para a limpeza pública caiu de R$ 15 milhões para R$ 8,5 milhões. O município está diminuindo? Não é isso que estamos vendo. Muito pelo contrário. E é um recurso para limpeza urbana e rural. Nós temos coleta no quinto distrito, o que não havia. Teremos agora um convênio com outros municípios da região para levar o lixo que não pode ser aproveitado até Quissamã. É um projeto com parceria da LLX. Tudo isso gera despesa. Agora, mexem no orçamento, limitam a flexibilidade para 5%. Por outro lado, eles aprovaram que a Câmara pode abrir créditos adicionais suplementares através de decreto legislativo.

O senhor, como líder do governo, faz a sustentação do posicionamento da bancada, encaminha o voto e invariavelmente perde. Não é uma missão frustrante?

Realmente isso incomoda. A gente fica falando e parece estar batendo no nada. Mas é o papel. Sabe aquela história? Posso não concordar com o que você diz, mas vou lutar pelo seu direito de dizê-lo. Se eu aceitei essa missão foi por nada além de acreditar no governo que represento.

O senhor acha que o G-5 se dissolve? O senhor espera que aconteça?

Eu não vi, até agora, nenhuma vontade de dissolver o grupo. Mas eu espero, peço que reflitam. O município tem que avançar. Isso não atrasa o governo, atrasa o município.

É comum ouvir de aliados do governo, depois do episódio do verão, que o G-5 está morto politicamente. Essa é também sua opinião?

Acho que eles têm o papel deles. Não vou dizer que estão mortos. Digo que eles passam por um momento de desentendimento com o povo. Mas no final é o povo que julga.

A oposição não tem ainda um nome fechado para a sucessão municipal. Só na Câmara são dois postulantes, Alexandre e Gersinho. O senhor arriscaria um palpite?

Espero que surjam ainda mais nomes. Quanto mais nomes, melhor. Assim o povo terá mais condições de escolher. Muita gente critica, mas não coloca o nome para o público. Tem que participar do processo.

Se a oposição não tem um nome, o governo também não fechou questão. A prefeita já declarou sua preferência por Neco, mas há vários outros nomes cogitados, inclusive o seu. Como isso tem sido costurado no grupo governista?

A prefeita disse, como você falou, que particularmente gostaria que fosse Neco. Mas deixou em aberto, não é uma imposição. O nome vai surgir dentro do grupo e o povo e o grupo têm que aceitar.

O nome de Neco tem sido aceito pelo povo e pelo grupo?

Na minha opinião sim. Mas como eu disse está em aberto.

O senhor tem demonstrado ser um vereador com perfil executivo. Está em campanha para prefeito?

Estou trabalhando. Quando me propus a ser vereador, disse que viria para servir e vim. Eu não vou aparecer de quatro em quatro anos. Vão ter que me engolir, mas de omissão não vão me acusar. Um vereador tem que ter atitude pública, tem que estar em todos os lugares, participar.

Mas não sonha em ser prefeito?

Acho que é o sonho de qualquer político que ama o que faz. Para mim tem sido muito prazeroso estar ajudando a escrever a história local.

Fonte: http://fmanha.com.br/blogs/entrelinhas/ Por julia, em 01-03-2011 - 16h14

Nenhum comentário:

Postar um comentário